segunda-feira, 17 de outubro de 2011

AS ORIGENS DO HÁBITO DE SE TOMAR CAFÉ DA MANHÃ

O café foi o primeiro produto anunciado e vendido como estimulante. Descoberto na Etiópia por volta de 800a.C., já na época era considerado perigoso - deixava o povo acordado e disposto a discutir. A bebida chegou à Europa séculos depois, impulsionada pelo sucesso do chá. Nos anos 1300, o chá, já bem popular no Oriente, foi "descoberto" pelos portugueses e passou a ser comercializado pelos holandeses. Duzentos anos mais tarde, o café seguiu o mesmo rumo, saindo da Turquia, onde era bastante consumido.
Antes da fama, ele chegou a ser proibido. Antes da fama passou a ser comercializado na Turquia do século XIV e dava cana para quem fosse pego bebendo-o: seis meses de prisão. Na Itália, o povo chegou a pedir ao Papa Clemente VIII, em 1615, que declarasse que o cafezinho era a "bebida do demônio". Mas, em vez de excomungar a bebida, o papa acabou virando seu fã - e chegou a abençoá-la. O conceito de "café da manhã" é uma invenção do século XVIII. Os antigos Europeus acordavam com o nascer do sol e não tinham uma bebida específica para espantar o sono. Antes de conhecerem o café, os mais ricos bebiam leite ordenhado na hora ou vinho quando na hora ou vinho quando acordavam. Os pobres encaravam água ou cerveja logo de  manhã - até as crianças.

UM POUCO MAIS DA HISTÓRIA  DO CAFÉ

Na década de 1830, os sinais de crise na agricultura escravista tradicional eram evidentes. Acúcar, tabaco e algodão, produtos clássicos na pauta de exportações, enfrentavam sérios problemas. Entretanto, o país pode reintegrar-se nos quadros da economia capitalista mundial, com a emergência de uma nova cultura: o café.
Ao longo do século XIX, o café tornou-se o principal produto da economia brasileira e, como as lavouras do Período Colonial, baseou-se na grande propriedade monocultura escravista, e sua produção tinha por objetivo atender a demanda do mercado externo.
Na década de 1831 - 40, o café foi responsável por 43,8% do total das exportações brasileiras e, na última década da monarquia, por 61,5%.
A economia cafeeira contribuiu para o surgimento e desenvolvimento de uma significativa rede de estradas de ferro, essencial para o escoamento do produto.
O café conseguiu recuperar a balança comercial brasileira, que tinha experimentado déficits muito grandes nas primeiras decadas do século XIX. Produziu riquezas, contribuiu para a multiplicação de cidades e gerou um novo grupo social, a burguesia cafeeira, de grande poder econômico e que, com o tempo, passou a defender uma autonomia mais ampla para as províncias, colocando-se assim contra o centralismo monárquico.
O texto literário também nos fornece referências e evidências para uma maior compreensão do processo histórico acima citado. É o caso do poema apresentado a seguir, de autoria do escritor modernista brasileiro Cassiano Ricardo( 1895 - 1974 ).

MOÇA TOMANDO CAFÉ

"Num salão de Paris
a linda moça de olhar gris
toma café.
Moça feliz.

Mas a moça não sabe, por quem é,
que há um mar azul, antes da sua xícara de café;
e que há um navio longo antes do mar azul. . .
E que antes do navio longo há uma terra do sul;
e, antes da terra, um porto, em contínuo vaivém,
com guindastes roncando na boca do trem
e botando letreiros nas costas do mar. . .
E antes do porto um trem madrugador
sobe-desce da serra a gritar, sem parar,
[. . .]

E, antes da serra, está o relógio da estação. . .
Tudo ofegante como um coração
que está sempre chegando, e palpitando assim.
E, antes da estação, se estende o cafezal.
E, antes do cafezal está o homem, por fim,
que derrubou sozinho a floresta brutal.
O homem sujo de terra, o lavrador
que dorme rico, a plantação branca de flor,
e acorda pobre no outro dia. . . ( não faz mal . . .)
com a geada negra que queimou o cafezal.
[. . .]

Quedê o sertão daqui?
Lavrador derrubou.

Quedê o lavrador?
Está plantando café.

Quedê o café?
Moça bebeu.

Mas a moça, onde está?
Está em París.

Moça feliz!"